Cloud Computing como estratégiaA tecnologia sempre exerceu um papel fundamental nas mudanças do cenário de negócios. Da idade da pedra à revolução industrial. Recentemente observei que as mudanças tecnológicas geralmente se sucedem a recessões econômicas. A razão é simples: recessões demandam maiores patamares de eficiência e agilidade que a tecnologia na qual ela aconteceu consegue oferecer. Por exemplo, a recessão mundial dos anos 80 foi seguida pela disseminação da computação pessoal. O número de PCs instalados no mundo cresceu de apenas um milhão em 1980 para mais de 100 milhões no fim da década. Sugiro a leitura do paper “40 anos de IT”, feito pelo IDC em 2004. Muito emblematico que o IDC defina o início da TI como a conhecemos com o surgimento do mainframe IBM /360 em 1964. Bem, seguindo nosso roteiro, a recessão mundial do início dos anos 90 levou à arquitetura cliente-servidor e à Web. Hoje, estamos novamente vivendo crises econômicas sérias, com a Europa patinando e seus efeitos globais se alastrando pelo mundo, com seus efeitos chegando até aqui. E temos no horizonte o modelo cloud computing. A computação em nuvem oferece inúmeras vantagens em facilidade de uso, eficiência no uso dos recursos e agilidade que o atual modelo computacional, sobre o qual a crise aconteceu, não poderá alcançar. Mas, a computação em nuvem tem que ser encarada como uma mudança na maneira de se olhar e usar TI e não como simples otimização da infraestrutura tecnológica. Assim como o PC mudou nossos hábitos e o acesso à Web transformou a sociedade, o impacto da computação em nuvem deve ser vista com o olhar estratégico e não apenas tático, de curto prazo. ![]() Nas empresas, cloud deve ser encarado como uma decisão estratégica, onde os executivos de alto nível e o CIO devem se engajar de forma colaborativa. Por exemplo, cloud pode transformar por completo um setor de indústria (cloud já está transformando setores como mídia, livros e música) e criar novos modelos de negócio, discussões que estão no nível do CEO. O impacto comercial da empresa em poder lançar um produto inovador em muito menos tempo, ou mesmo criar um novo negócio, sem precisar recorrer ao atual paradigma de aquisição, instalação e operação de um ativo tecnológico abre novas janelas de oportunidades. O CIO deve liderar o processo de adoção de cloud, desenhando e assumindo a responsabilidade pelo road map de sua implementação. O CFO também tem papel importante, pois contribuirá em muito para criar o business case do novo modelo. Um ambiente de negócios que será muito afetado são as pequenas e médias empresas. A imensa maioria destas empresas têm dificuldade em lidar com novas tecnologias, carece de budget e expertise, e não consegue usufruir de recursos tecnológicos que, sob o modelo atual, exigentes de altos investimentos em capital, ficam restritos às grandes corporações. Mas, por exemplo, a possibilidade de uma empresa operar um serviço de análise de dados que envolva um bilhão de acessos aos seus sites coletados durante vários anos, para gerar um maior conhecimento dos hábitos dos seus clientes, operando tudo isso por algumas horas, em uma nuvem pública, ao custo de alguns milhares de reais, sem necessidade de comprar máquinas é uma quebra de paradigma. Ou seja, é possível termos Big Data sem Big Servers! Aliás, recomendo a leitura de um paper muito interessante, de casos de uso na Índia, país emergente como o Brasil, onde os dados mostram ganhos significativos com uso de ERP em nuvem por parte das pequenas e médias empresas. O uso de cloud baixa de forma substancial a barreira de entrada das pequenas e médias empresas no mundo da computação moderna. Para empresas da economia criativa, cuja matéria prima é essencialmente digital, cloud é o caminho natural. Uma pesquisa feita nos EUA mostrou que nos últimos dois anos 83% das novas firmas de software criadas o foram diretamente no modelo SaaS. Cloud traz em seu bojo um novo modelo de TI. Hábitos e modelos de uso de TI, como conhecemos hoje serão mudados ao longo dos próximos anos. TI, liberada das preocupações com questões operacionais, estará cada vez mais envolvida com as estratégias e as redefinições do negócio. Cloud provavelmente nos levará a uma nova rodada de inovações em processos e modelos de negócio. Com cloud uma pequena empresa pode desenvolver e lançar no mercado um novo negócio e escalar seu empreendimento para milhões de usuários em muito pouco tempo. Este fenômeno quebra os tradicionais pensamentos de planejamento estratégico onde se valida o cenário atual e não se visualiza disrupções vindo de lugares inesperados. Entretanto, a migração para este novo cenário não será feito de um dia para o outro. Existem ainda algumas barreiras que estão sendo derrubadas, é verdade, mas que de alguma forma ainda limitam o ritmo de adoção de Cloud Computing. Um ponto que quero destacar aqui é a mudança no modelo arquitetônico das aplicações. Uma utilização do modelo PaaS como plataforma para criação de aplicações demanda mudanças na maneira de se pensar a arquitetura, pois muitas PaaS existentes demandam pressupostos arquitetônicos próprios. Além disso, muitos serviços SaaS implementam APIs específicas, que podem ser exploradas pelas aplicações. Aliás, suas próprias aplicações podem implementar APIs que os seus clientes e usuários possam explorar para incrementar as funcionalidades que você provê. Tem um artigo breve, mas que vale a pena ler, chamado “The Rise of APIs – lessons from Cloudstock conference” que mostra alguns exemplos interessantes. O uso dos recursos específicos de cloud, como elasticidade também demandam conhecimentos das peculiaridades das nuvens envolvidas. Explorar plenamente a arquitetura de cloud é aproveitar a possibilidade de distribuir a aplicação em componentes que podem ser replicados pela nuvem, de modo a operarem em paralelo. Também é importante pensar em desenhar novas aplicações com o modelo multi-tenant em mente. A questão da interoperabilidade é de extrema importância. Muito provavelmente uma companhia vai utilizar mais de uma nuvem e mesmo manter diversas aplicações e bases de dados on-premise, e todas elas devem interoperar, pois os sistemas geralmente atuam integrados. Um lembrete importante aqui: cloud vai incrementar a utilização do modelo SOA (Services Oriented Architecture), que foi muito discutida e que nos últimos anos caiu um pouco no esquecimento. Uma aplicação cloud não consome infraestrutura de tecnologia, pois esta é mascarada pela virtualização, mas serviços computacionais. Portanto, cloud é SOA por excelência. Outros aspectos fundamentais na migração para cloud é a essencialidade da rede de telecomunicações. Em nuvens públicas passamos a depender muito mais de redes externas e portanto os provedores de redes passam a ter papel crítico neste contexto. Monitorar o desempenho e disponibilidade da rede, implementar modelos de governança de redes e assinar SLAs com os provedores passa a ser essencial. Enfim, cloud já está aí. Impossível não sentir os efeitos na indústria de TI (novos modelos de precificação e entrega de software está afetando o modelo econômico da indústria) e nos seus usuários. A migração para cloud demanda um planejamento adequado, que envolva os principais executivos da empresa e não apenas a área de TI. Para empresas de menor porte a migração é facilitada, pois a infraestrutura de TI é menos complexa e pode ser mudada mais rapidamente. Grandes corporações terão maior dificuldade e provavelmente conviverão com o modelo híbrido, onde parte das aplicações rodará em nuvens públicas e parte em nuvens privadas e mesmo on-premise. Mas, a corrida já foi iniciada.
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