Infraestrutura para as cidades inteligentes
Claramente esta infraestrutura evolui para se tornar mais e mais tecnológica. E esta tendência é irreversível, uma vez que o mundo está se tornando cada vez mais instrumentado, interconectado e inteligente. Um mundo ou uma cidade mais instrumentada consegue obter e tratar dados de forma muito mais rápida e eficiente. Um exemplo simples pode ser a instalação de sensores que monitorem em tempo real a rede de distribuição de água e detetem o grau de contaminação e vazamentos no instante em que estes ocorram. A tecnologia já nos permite medir e controlar coisas que não conseguíamos antes. Por sua vez, a interconexão permite que estes sensores troquem informações entre si e com sistemas de computação na retaguarda, acionando e coordenando ações corretivas e até mesmo preventivas de forma inteiramente automática. E a cidade se torna mais inteligente e utiliza modelos e algoritmos analíticos em cima das informações obtidas por estes sensores, melhorando de forma significativa o processo de tomada de decisão da gestão pública. Minha percepção é que nos próximos anos veremos uma evolução muito intensa das soluções que envolvam o conceito das cidades inteligentes, ou seja, soluções que façam a convergência do mundo digital com o mundo físico da infraestrutura das cidades. Veremos mais e mais soluções inovadoras que embutirão em seus processos e algoritmos tecnologias embarcadas, como sensores e atuadores, que serão capazes de absorver, transmitir e analisar informações em escala massiva, permitido reações de forma automática às mudanças nos próprios ambientes que estejam monitorando e controlando. Mas, para chegarmos lá, ainda temos que dar muitos passos. As cidades, para adotarem o conceito de cidades mais inteligentes ou smarter cities devem, antes de mais nada, definir um “Smarter Cities Roadmap”, que contemple: a) Uma estratégia de longo prazo, mas com objetivos e ações concretas de curto prazo; b) Priorize os investimentos que produzam maior impacto na própria sociedade; c) Integre os diversos sistemas que compõem a complexa rede de conexões da infraestrutura da cidade e d) Otimize os seus serviços e operações. Embora seja um princípio básico, muitas cidades não tem um plano diretor adequado e atualizado. E muitos dos planos diretores existentes são meros relatos de desejos e visões futurísticas, sem compromissos com o mundo real. Na imensa maioria das vezes, os sistemas das cidades reagem a situações de crise, não atuando de forma preventiva. Por exemplo, após um crescimento desordenado em determinada região da cidade, toma-se medidas corretivas para melhorar o gargalo do trânsito formado pela multiplicação de veiculos nas vias não preparadas para tal volume de trânsito. Um sistema preventivo coordenaria o crescimento populacional da região com os sistemas de trânsito, segurança pública, saneamento, etc. Os especialitas em trânsito estimam que uma grande cidade deve rever suas metas e estratégias de circulação a cada cinco anos. Quais cidades fazem isso? Portanto, o primeiro passo na direção de se tornar uma smarter city é definir o que a cidade quer ser daqui a 15 ou 20 anos. Uma smarter city é uma cidade que oferece qualidade de vida e atratividade para novos negócios, variáveis profundamente influenciadas pelo grau de eficiência percebida dos core systems da cidade, como transporte, segurança pública, saúde, educação e outros. Como fazer? Uma sugestão simples é começar com um diagnóstico ou assessment que analise a situação atual dos sistemas que compõem a cidade e ajude a construir a visão do que será esta cidade 20 anos à frente. Cada cidade tem características, prioridades e vocações próprias e a estratégia de ação que pode dar certo em uma, não poderá ser automaticamente transplantada para outra. Um exemplo simples pode ser o sistema de trânsito. Em algumas cidades existe um deslocamento de manhã em direção ao centro e à tarde no sentido inverso. Em outras, os deslocamentos são em todos os sentidos, sem fluxo e contra-fluxos definidos. Soluções para um modelo característico de trânsito nem sempre funcionarão adequadamente para outros. Já algumas cidades tem sua economia baseada no modelo industrial e outras na economia de serviços. As demandas por determinadas infraestruturas tem características diferenciadas. Por exemplo, nas economias industriais ainda existe uma certa concentração do deslocamento em determinados horários. Nas economias baseadas em serviços, os deslocamentos diluem-se por todo o dia. Os modelos de trânsito devem refletir estas características. O plano diretor deve buscar integração de todos os elos que compõem a rede de sistemas das cidades. A visão da cidade e de seus sistemas deve ser holística. Por exemplo, em economias baseadas em serviços, o uso de home office e consequentemente banda larga deve ser priorizado. Portanto, estamos falando da integração dos planos dos sistemas de transporte, comunicações e energia. Muitos dos serviços podem ser prestados sem a presença física dos envolvidos. Além disso, uma decisão que envolva um sistema não pode ser tomada sem analisar o impacto nos demais. Por exemplo, uma decisão sobre o sistema de energia deve considerar o seu impacto nos sistemas de água, transporte e de negócios da cidade. O plano diretor também deve definir claramente os objetivos de curto prazo que serão alcançados. Especificações como “melhorar o trânsito” devem ser acompanhadas de metas bem definidas como “redução do tempo médio de viagem entre os bairros X e Y de 30 para 15 minutos em um ano”. Ou “diminuir o nível de evasão escolar nas escolas públicas em 30% até o fim de 2012”. Ou para disseminação de tecnologias de informação e comunicação, hoje tão essenciais quanto saneamento, deveremos ter métricas como definir em um período determinado de tempo o % da cidade coberta ou iluminada por banda larga (via cabo ou wireless), % das residências com computadores, % população com acesso à Internet, % da população acessando serviços de e-gov, % de órgãos públicos com websites públicos, % de compras públicas efetuadas por pregões eletrônicos, etc. Vamos exemplificar com algumas estratégias hipotéticas. A primeira pode ser diminuir os congestionamentos. A gestão e operação dos sistemas de transporte tem grande influência na economia das cidades. Congestionamentos impactam negativamente a qualidade de vida e diminuem a produtividade econômica. Algumas estimativas apontam que os congestionamentos impactam negativamente o PIB das cidades entre 1,5% a 4%. Um estudo recente mostrou que o impacto negativo no PIB chega a 2,4% em São Paulo, 2,6% na Cidade do México e 4% em Manila, nas Filipinas. Se nada for feito, a situação tende a piorar. São emplacados 1.000 novos veículos por dia em São Paulo e o tráfego cresce quatro vezes mais rápido que a população em cidades como Delhi e Bangalore, na Índia. A melhoria no trânsito traz benefícios mensuráveis. Estima-se que no Reino Unido uma simples redução de 5% no tempo de viagem nas estradas pode gerar uma melhoria de 0,2% do PIB. Outra estratégia é a segurança pública. A atratividade turística e econômica de uma cidade tem relação direta com o seu nível de segurança pública. E segurança pública não implica apenas em contratação de mais policiais, mas principalmente no uso de sistemas mais inteligentes que integrem recursos como câmeras inteligentes a sistemas de deteção e análise de ocorrências policiais em tempo real. Com estes sistemas podemos identificar padrões de incidentes de modo a que a força policial aja preventivamente, eliminando potenciais focos de problemas, antes que eles ocorram. Além disso, o sistema de segurança pública deve estar integrado com o sistema de saúde (sistema de resposta à emergências), e transporte (gestão do trânsito). Um método simples - mas proveitoso - de melhorar a qualidade do diagnóstico é a adoção de benchmarks contra cidades que tenham características similares. Também o compartilhamento de best practices, já comum nas empresas privadas, pode e deve ser adotado na gestão das cidades. A caminhada em direção a uma smarter city não passa apenas pelo uso de tecnologia. A tecnologia é a força impulsionadora destas transformações e melhorias. Coletar e analisar dados em tempo real abre oportunidades antes inimagináveis na gestão da infraestrutura das cidades. Podemos pensar em formas inovadoras de criar novas politicas públicas, sustentadas pelo massivo uso de tecnologias como sensores e atuadores. O envolvimento da população também é potencializado com o uso de tecnologias como redes sociais. No Reino Unido uma experiência interessante é o FixMyStreet (www |