Diversas palestras e mesas redondas apresentaram as múltiplas visões de um planeta mais inteligente. Além dos exemplos que abrem este post, os palestrantes citaram vários outros já implementados em cidades dos Estados Unidos (Nova York, Boston, Dubuque), da Ásia (Ho-Chi-Minh) e da Europa (Estocolmo).
A iniciativa de cidades mais inteligentes engloba toda a operação da IBM, em especial a área de pesquisa e desenvolvimento.
Laboratório no Brasil
Em junho último, a IBM anunciou a abertura no Brasil de seu nono Centro de Excelência no mundo, o primeiro na América Latina (e no hemisfério sul). Nele, o foco principal será a pesquisa de caráter global visando ao "Planeta mais inteligente". Co-locado nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, o Centro já está em busca de doutores para se juntarem aos mais de 3 mil pesquisadores que integram a atual rede nos demais oito centros.
A pesquisa no centro brasileiro será direcionada à criação de "tecnologias para um planeta mais inteligente" em três áreas:
- Tecnologias para recursos naturais mais inteligentes
- Dispositivos mais inteligentes para uso nesse planeta mais inteligente
- Sistemas humanos mais inteligentes, com vistas tanto a eventos maiores (competições esportivas, grandes inundações etc.) quanto menores (chuva forte em determinada parte da cidade, ou um desfile que obstrua certas avenidas, ou ainda uma rodoviária lotada em virtude do feriado)
Com um orçamento global de aproximadamente US$ 5,8 bilhões para a área de pesquisa e desenvolvimento, a IBM registrou 4.600 novas patentes em 2009, além de ter criado diversas tecnologias de ponta que ajudaram a moldar nosso mundo atual, como chips de memória DRAM, bancos de dados relacionais, uma espécie de laser que não emite calor (que veio a possibilitar as cirurgias de olhos a laser) e o primeiro computador petaflop. O vice-presidente da IBM, diante disso, propôs um desafio aos diretores do novo Centro de Excelência: "fazer em cinco anos mais do que o segundo Centro mais recente fez em dez", como colocou o indiano Daniel M. Dias, diretor do novo centro brasileiro e ex-diretor do centro na Índia.
O Brasil foi escolhido como sede para o laboratório após um longo processo, e contou com as seguintes características para vencer a corrida: recursos naturais e humanos (petróleo, mineração, profissionais qualificados), os centros acadêmicos de nível internacional (para formação de novos pesquisadores) e a economia dinâmica com várias oportunidades.
A busca da inteligência
Cezar Taurion, Gerente de Novas Tecnologias Aplicadas da IBM e também colunista do developerWorks, explicou todo o processo de formulação da estratégia da IBM para "um planeta mais inteligente". Segundo o executivo, a big blue percebeu mudanças na sociedade, principalmente com a crise econômica deflagrada no final de 2008.
"Vimos que era preciso aumentar a eficiência", ele disse. "O Banco Mundial disse que serão necessários investimentos de US$ 35 a 40 trilhões em infraestrutura para sustentar o crescimento econômico projetado para o planeta", afirmou. "Como as cidades estão crescendo, há cada vez mais pessoas vivendo nas áreas mais densamente povoadas. A tecnologia pode entrar justamente nesse ponto", completou.
Segundo Taurion, as áreas que mais se beneficiariam do aumento de eficiência seriam o trânsito, a segurança e a saúde (imagine o controle de epidemias auxiliado por sensores mais inteligentes).
Aplicabilidade à Copa do Mundo e aos Jogos Olímpicos
Como sede da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, o Brasil certamente pode se beneficiar de tecnologias que permitam agir de forma mais inteligente — até pró-ativamente — a obstáculos e dificuldades operacionais, principalmente ao longo da realização desses eventos esportivos. "O uso das tecnologias para um planeta mais inteligente não se destina a executar o planejamento urbano, mas a auxiliar a tomada de decisões para a operação das cidades, estados e países", afirmou Guruduth Banavar, vice-presidente e CTO global da IBM para o setor público. "Imagine uma câmera de fiscalização de trânsito que também consiga detectar situações sujeitas a crimes. Isto requer uma integração entre múltiplas instâncias — município e estado, no caso, e possivelmente também empresas privadas — que vai além da esfera tecnológica e alcança um patamar político", completou.
No Brasil, os sistemas que levantam o maior interesse ainda são aqueles destinados à segurança — como câmeras que detectem situações mais propensas à ocorrência de crimes ao redor de estádios e já acionem de forma autônoma a polícia. Porém, questões relacionadas ao clima certamente também têm grande uso. Se sensores na periferia de uma grande cidade detectarem fortes chuvas, é possível que os gestores da cidade se preparem para a chegada do temporal e evacuem regiões mais sensíveis antes mesmo que haja inundações, mobilizando apenas os efetivos necessários para cada local, entre polícia, bombeiros, defesa civil etc.
Contudo, no transporte também há exemplos marcantes, em especial para os eventos esportivos. Imagine uma seleção que vá jogar, durante a Copa do Mundo, em duas cidades distantes numa mesma semana. Se ela mobilizar 2.000 turistas, isso significa que será preciso movimentar, provavelmente de avião, 2.000 passageiros na ida e 2.000 passageiros na volta, somente entre essas duas cidades. É preciso garantir que esse pico na demanda ocorra sem gargalos, sem prejuízos e sem prejudicar os passageiros regulares das linhas aéreas envolvidas.
"No Vietnã, a cidade de Ho-Chi-Minh sofria com problemas de qualidade dos alimentos. Conseguimos implantar tecnologias para rastrear a chegada de alimentos em más condições e assim evitar que eles chegassem aos consumidores", exemplificou Guruduth. "Em outras cidades, os sistemas inteligentes auxiliam na otimização de rotas de transporte público e até no valor das tarifas". Os exemplos apresentados pelos executivos foram, de fato, inúmeros.
Uma oportunidade que já se está verificando no Brasil é a das cidades de médio porte. "Muitas delas estão interessadas em tecnologias mais inteligentes para evitar os problemas enfrentados pelas cidades brasileiras que cresceram desordenadamente", informou Cezar Taurion.
No entanto, a falta brasileira de infra-estrutura é um obstáculo. Enquanto na Europa e nos EUA o foco do trabalho é modernizar a infra-estrutura, no Brasil ela ainda precisa ser construída.
Não há dúvidas de que os benefícios de uma maior inteligência na administração pública seriam enormes. Se já temos a tecnologia, as pessoas capacitadas, os recursos naturais e os conhecimentos, o que mais pode faltar?