Relações de poder na comunidade do Software LivreO ser humano é um ser político, não resta dúvida. Como tal, está sujeito a relações de poder e, com freq A comunidade do Software Livre é vista por muitos como uma anarquia — por definição, um regime em que todos os indivíduos detêm o mesmo nível de poder. Numa escala mais aproximada, o que se vê são múltiplas comunidades, cada uma em torno de um projeto ou software específico. Quando essas comunidades crescem, naturalmente definem-se e alteram-se as relações de poder dentro de cada uma. A posição de "ditador benevolente" era uma certeza nas comunidades numerosas da década de 1990. Linus Torvalds e Patrick Volkerding, respectivamente à frente do kernel Linux e do Slackware, permanecem até hoje nessa posição em suas comunidades. Contudo, essas ditaduras poderiam ser caracterizadas como profundamente meritocráticas: quando Linus ou Patrick são apresentados a novas formas de resolver algum problema, sempre julgam com base no mérito técnico. Portanto, eles exercem um papel de moderadores, com função de "desempatar" eventuais disputas ou simplesmente tomar aquelas decisões mais difíceis. A disputa no systemdOs autores do systemd Lennart Poettering e Kay Sievers, ambos funcionários da Red Hat, propuseram em 2010 um conjunto de soluções para tornar o processo de inicialização do sistema operacional mais confiável, robusto e veloz. Já no anúncio do projeto em 2010, questões sobre a portabilidade do "novo init" foram recebidas com desdém técnico: "systemd is strictly Linux specific. It is not portable to other Unixes and we do not care about portability to them. This allows us to make use of Linux features and is one of the reasons why systemd is so much more powerful than any other init system around" Traduzindo (a ênfase é minha): "O systemd é estritamente específico para o Linux. Não é portável para outros Unixes e não nos importamos com sua portabilidade. Isto nos permite lançar mão de recursos do Linux e é um dos motivos para o systemd ser tão mais poderoso do que qualquer outro sistema de init existente" Embora haja, de fato, motivos técnicos para esta afirmação, o discurso dos autores deixa clara a despreocupação com a disponibilidade do software para outros kernels e sistemas operacionais. Agem como se não houvesse qualquer proximidade tecnológica e ideológica entre o Linux e os demais sistemas livres. Do termo Coopetition, só enxe Linux versus LinuxInfelizmente, o "truco" não terminou nesta cartada inicial. Desde então, cada nova "proposta" dos desenvolvedores não passa de um informativo ao mundo: "Estamos desenvolvendo este novo recurso desta forma e esta será a nova maneira de realizar tal tarefa". Assim foi com a implementação do Journal, potencial substituto do syslog, cuja documentação foi propositalmente omitida no início de seu desenvolvimento. "Em vez de ler os arquivos binários que o Journal escreve, prefiram usar nossa API em C para acessar o Jour E mais uma: ao engolir o udev, Lennart e Kay se negaram a facilitar o trabalho dos empacotadores de outras distribuições ao recusar a inclusão de opções que permitiriam a compilação independente do systemd e do udev. O poder da comunidade e da empresaOs autores do systemd e do udev são funcionários da empresa que patrocina uma distribuição comunitária, o Fedora. Os softwares desenvolvidos por essa dupla, por mais polêmicos que sejam, são incluídos no Fedora sem grandes questionamentos, de forma que alcançam quase imediatamente um grande número de usuários. Ou seja, o que Lennart e Kay desenvolvem pode ter méritos técnicos — na minha humilde opinião, em geral tem mesmo — mas eles desfrutam de um poder desp Consequências polí |