Gentoo, uma ótima distribuição em quedaHá algum tempo eu já queria escrever sobre a minha querida distribuição GNU/Linux Gentoo. A recente notícia sobre o abandono da documentação em português foi o empurrão que faltava para escrever este post. ![]() Com o objetivo de integrar tecnologias interessantes do FreeBSD ao GNU/Linux, principalmente o sistema de pacotes Ports, o Gentoo acabou tornando-se uma meta-distribuição — isto é, um conjunto de softwares adequados à criação de distribuições GNU/Linux. Por realizar a compilação de todos os pacotes com os parâmetros desejados no GCC — leia-se otimizações específicas para o processador em uso — acreditava-se que o Gentoo seria capaz de superar a velocidade de todas as demais distribuições GNU/Linux, o que nem sempre se confirma (mas às vezes sim). Quando alcançou a qualidade necessária para dispor de um público mais numeroso (por volta de 2004), o Gentoo chegou a desfrutar de um intenso crescimento com relação a sua base instalada — conforme noticiou a NetCraft com relação a servidores web. Quando comecei a usar o Gentoo, em 2003, ele tinha poucos usuários, mas sua comunidade era verdadeiramente empenhada em promover a (met Outra grande parte foi nos treinamentos da Red Hat, hehehe. Méritos técnicosAs principais qualidades do Gentoo pertencem à área técnica: seu gerenciador de pacotes, o Portage, é uma competentíssima ferramenta de compilação, instalação e resolução de dependências. Imagine ter que resolver dependências quando cada pacote pode ser compilado com ou sem suporte a PostgreSQL, por exemplo, e com ou sem suporte a Udev, além de várias outras opções de configuração e compilação. Caso o suporte a IPv6 seja ativado no pacote, é preciso conferir se todas as bibliotecas subjacentes — todas que precisarem fornecer compatibilidade com IPv6 — de fato oferecem esse recurso. Claro, essa dificuldade foi inventada pelos próprios desenvolvedores da distribuição, então não há motivo para choradeira. Muito pelo contrário, é surpreendente a eficácia do Portage em gerenciar pacotes com tamanho nível de detalhamento. Diferentemente do apt e do yum, que dispõem de uma ferramenta de baixo nível para instalar os pacotes, o Portage não segue tão à risca o princípio do Unix segundo o qual cada programa realiza uma única tarefa; o Portage é grande e complexo, e realiza todas as tarefas da instalação, desde o download dos pacotes até a compilação e instalação de cada arquivo que o compõe. E assim como o aptitude faz para o apt, o Portage também disp?e de implementações alternativas, sendo as principais o pkgcore e o Paludis. Dificuldades intrínsecas: o empacotamentoDar ao usuário total controle sobre as opções de compilação de cada pacote é um risco para o empacotador. Torna-se praticamente impossível um empacotador reproduzir os erros causados no ambiente de outro usuário. Por outro lado, exige-se leitura, paciência e conhecimento por parte dos usuários. A questão do empacotamento é fundamental no Gentoo: ao mesmo tempo em que é sua maior vantagem, é também sua maior desvantagem. É como se cada pacote fosse empacotado duas vezes: uma pelo desenvolvedor da distribuição responsável por aquele pacote e outra pelo usuário. Quando você decide usar uma distribuição, você delega ao empacotador da sua distribuição a tarefa de selecionar as opções que serão ativadas em cada pacote. É claro que os empacotadores das principais distribuições são pessoas muito competentes e extremamente responsáveis, então as opções dos pacotes são sempre muito boas. No entanto, o usuário tem permissão de discordar da seleção, e é aí que entra a flexibilidade oferecida pelo Portage. Os outros sistemas de pacote também compilamDiante das vantagens apontadas do Portage, frequentemente os usuários de outras distribuições — e outros sistemas de pacotes, portanto — alegam que o Mas compilar é tão importante assim?Não. Ao menos pessoalmente eu não acho. Confesso que eu preferiria que os empacotadores da minha distribuição entrassem na minha mente e viajassem no tempo para descobrir quais recursos eu desejo e vou precisar em cada um dos pacotes que instalo. E da mesma forma que os outros sistemas de pacotes também podem compilar pacotes individualmente, o Portage também pode lidar com pacotes binários. Faz muitos anos que não compilo os pacotes trabalhosos, como Firefox, Thunderbird e OpenOffice.org (cada um capaz de tomar horas da CPU), pois a equipe do Gentoo prepara versões compiladas desses pacotes, que funcionam muito bem. Além disso, há alguns repositórios de pacotes binários que distribuem pacotes com as opções de compilação padrão. Distribuição binária derivadaComo meta-distribuição, era de se esperar que o Gentoo desse origem a inúmeras distribuições. Afinal, o Debian, que também é chamado de meta-distribuição, é pai de dezenas de outras distribuições. O Gentoo deu, sim, origem a uma distribuição binária — que aliás é muito interessante. Trata-se do Sabayon. Com o mote jocoso de "as easy as an abacus, as fast as a segway" (fácil como um ábaco, veloz como um segway), o Sabayon é rápido, atraente e divertido. Ele utiliza um sistema de pacotes chamado entropy, compatível com o Portage e com seus pacotes binários. E instala justamente só pacotes binários. Se o usuário quiser, pode usar o comando Outra distribuição menos falada, mas também baseada no Gentoo, é o Librix da Itautec. A empresa, neste caso, faz uso da infra-estrutura de software do Gentoo para selecionar quais pacotes, dentre todos os disponíveis para Gentoo, serão oferecidos aos usuários com suporte oficial. Ubuntu-Debian, Sabayon-GentooJá defendi antes a ideia de que o Sabayon tinha tudo para ser "o Ubuntu do Gentoo". Ou seja, enquanto o Ubuntu é uma variante mais amigável (e positivamente limitada — favor não encarar como crítica negativa) do Debian, ele também serve como generosa porta de entrada para mais usuários e desenvolvedores desse venerável e confiável sistema livre. Da mesma forma, o Sabayon poderia ser o cartão de visita do Gentoo, demonstrando uma das infinitas possibilidades de se construir algo muito útil e competente com a infra-estrutura de software desse projeto tão original. Porém, os dois projetos não parecem se comunicar muito — o Gentoo ultimamente não parece se comunicar direito com ninguém — e a colaboração não ultrapassa a fronteira do código. Documentação defasadaDe volta ao problema da defasagem na tradução da documentação do Gentoo para nosso idioma, ele é causado por uma forte queda no prestígio do Gentoo. Embora tenha sido adotado por muitos usuários no auge de seu sucesso (2003-2005), desde então esse sistema vem perdendo muitos usuários devido a profundos problemas em sua comunidade — justamente sua maior força no período de crescimento. Muitos ex-usuários ficaram descontentes com a falta de atualização de pacotes — área que realmente sofreu defasagens durante certo tempo — e deixaram a distribuição, enquanto que outros, ao terminar seu ciclo de aprendizado no Gentoo, alternaram para outros sistemas com menor overhead administrativo. Contudo, esses motivos não foram suficientes para tirarem o Gentoo do meu laptop, e continuo tentando promover o sistema sempre que possível, pois considero que ele oferece o grau certo de controle e automatização para meu perfil de uso. Por isso, ofereci agora mesmo à equipe do Gentoo Brasil meus préstimos de tradutor para auxiliar na tarefa de trazer nova vida à documentação em português. Se tudo der certo, em pouco tempo teremos mais documentação, mais tradutores e, quem sabe, novos usuários brasileiros de Gentoo. Por enquanto, fiquem com a documentação de instalação em inglês. [Atualização] Ou com este vídeo-tutorial de instalação em português. Ela é detalhada e pode levar do zero ao desktop básico em menos de 24 horas. Ou então, para algo mais instantâneo, que tal conhecer o Sabayon? Até mais e emerge world! ;-) Outros artigos deste autor
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